sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

#38

Dentro de mim é só uma coisa pra qual ainda não dei nome. Pela não necessidade de chamá-la, talvez. Afinal, ela sempre vem sozinha. Vem parar na minha garganta. Vontade de ficar e enfrentar, misturada com a de sair correndo. Vontade que quase nunca havia tido antes.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

#37

Sempre tive um certo fascínio por sentar em calçadas. Acho que é porque lá de baixo a perspectiva é diferente. A gente torce o pescoço pra olhar pra cima e tentar captar todas as imagens. Tem todo um contexto de cidade te envolvendo. É. Eu não sei muito bem, não. Talvez seja só eu, confortável em uma posição inferior.

domingo, 4 de dezembro de 2011

#36

Quem sabe fechando os olhos eu possa ir de vez para a vida que eu vou ter longe daqui. Naquela cidadezinha da rua de bloquetes sextavados... Aquela que tem mil olhos disfarçados de janelas, que nem piscam só pra ver a tal rua passar, e as pessoas passando nela. Quem sabe eu até consiga sentir o vento que carrega consigo um cheiro meio úmido de chuva e café quente. E veja os musgos e as trepadeiras subindo nos muros, como quem abraça algo pra nunca deixar ir embora. E a igrejinha por onde o Sol vai se esconder, se perpetuando por um tempo a mais, através dos raios refletidos no sino. Talvez eu consiga ouvir as conversas monótonas dos senhores na porta de casa, rangindo suas cadeiras de balanço. E das senhoras cozendo algo pra esquentar alguém do frio. E talvez até veja a ávore meio torta no meio da única praça, espalhando suas folhas como confetes, onde eu vou me encostar até o cansaço me fazer adormecer. É, quem sabe fechando os olhos eu possa... mas só até voltar a abrí-los.

#35

Porque minhas razões têm essa mania boba de serem discretas?

#34

Uma mistura de náusea e dor que entra pela boca e se aloja na cavidade toráxica. E lá fica. Fica até me fazer esquecer de quem sou. Até eu perder toda minha afamada insensibilidade. Fica me torturando, me mostrando que meu jogo está perdido. Fica por que faz questão de me provar que toda e qualquer angústia, ainda é pequena perto do que pode causar o que causei um dia.

sábado, 3 de dezembro de 2011

#33

O não entrelaçar de dedos. O olhar se perdendo antes de ter encontrado seu destino. O desvanecer do que era pra ser e seria. Tudo de concreto e verdadeiro sendo tomado por uma fragilidade aterradora. A porta batendo, porque você sempre transformou seus medos em força. A sombra dando lugar à claridade onde havia estado você. E o silêncio que esqueceu de levar. Só eu e o maldito silêncio que esqueceu de levar.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

#32

E, se você não sabe, posso lhe explicar. Quando alguém diz: não se preocupe comigo. Essa pessoa está querendo dizer exatamente o contrário.

domingo, 13 de novembro de 2011

#31

Fiz tudo ao contrário porque quis. Só te esperei depois de ter dito que não iria mais voltar. Só te invejei quando passou a fazer o que eu não tinha vontade. Te lamentei quando era o que menos precisava. E te ouvi quando para mim você nem mais tinha palavras. Te busquei quando já havia me perdido no meu próprio caminho. E te vi quando a distância já começava a nublar meus olhos. Só te quis quando seu querer já havia adormecido. E te amei no exato instante que não mais adiantava.

#30

Não. Não toque tão devagar nas coisas. Caleje suas mãos antes de qualquer contato. E pare de olhar em volta atrás de detalhes. A luz fraca nem te deixará enxergar tão bem... Esqueça os ideais. Ignore os sonhos. Guarde as vontades para um amanhã que não virá. Não suspire tanto, meu bem. Respire e só.

#29

Estou farta de folhas que vão com o vento. Quero uma pedra no meu caminho.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

#28

Não pense que os meu gritos foram feitos para te assustar. Não se importe com meu choro. E muito menos com os soluços. Vai andando, vai. Segue adiante. Eu vou engolir tudo e, se não virar um câncer e um dia me encontrarem morta, eu volto a te procurar. Se ainda quiser, te dou o tal perdão.

#27

E cada gotinha de chuva tamborilava um tom diferente naquela latinha caída no quintal. Cada pedaço de sol que entrava na varanda virava uma cor refletida na parede ao passar pelo prisma que a vó tinha pendurado perto da janela. Um arco-íris corria pelo céu enquanto alguma viúva de certo casava com algum espanhol. O cheiro vindo da cozinha se enroscava no nariz da gente, feito o gato da vizinha se enroscando nas nossas pernas. E a rede balançava... Que nem um barco balança no mar. Eu deitada, quase que dormindo, ficava só esperando. Esperando a rede aportar em algum cais.

#26

Ele seguiu todo aquele protocolo. Deu beijinho e na hora até se empolgou. Prometeu, no calor do momento, todo o amor que pudesse dar. Sem explicar bem quanto era. E bem verdade que nem era todo aquele, sabe. Mas no olho dela viu um sorriso. Um sorriso imenso de mãos dadas com muita esperança e percebeu o que havia feito. Tarde demais. Ponderou as consequências das palavras já ditas, analisou tudo. E corajosamente fez o que julgou ser o óbvio a ser feito. Mudou a entonação da voz para grave, pregou na boca um sorriso que dizia ser sincero. E repetiu tudo para ela. Até a parte em que falava do amor.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

#25

Lembro direitinho deu criança sentada no colo da mãe. Você é feliz? Ela perguntou. E o que sinto é saudade da não hesitação com que respondi.

sábado, 23 de julho de 2011

#24

Pode rir da minha cara agora, sina. Daquele jeito pouco. Pode entortar a boca e deixar aparecer só um pedacinho dos dentes. Pode arquear a sobrancelha direita e deixar a pálpebra cair até a metade do olho. Isso. Balance a cabeça de um lado para o outro. Assuma o maldito ar de quem sabia. Profecia cumprida. Mais uma vez.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

#23

Tem vez que a gente é feliz. Como se ganhasse um milhão de balinhas de caramelo. E essas, compensam todo o resto.

#22

Sempre muito bom ter pra onde voltar. Bom ter gente esperando. Ter isso de querer o mesmo de sempre. Só não é perfeito. Nada, nunca, perfeito. Você aí, é a parte ruim da minha história aqui.

#21

Nosso amor morre hoje. E de um tudo sei que não fiz. Já não importa mais. Não mais. Alguns dois ou três arrependimentos? Talvez. Não faz mal. Pra cada um deles, invento uma bela mentira.

terça-feira, 5 de julho de 2011

#20

Antes não. Antes eu era aquela toda boba. Mas a gente se descobre a deixar de ser assim. Agora, todas as minhas raivas, eu engulo. Não tenho mais o direito de as sentir. Muito menos a vontade.

#19

Aí ele disse que eu era mto previsível e depois que eu era tão inconstante. Eu perguntei: Ahn? E ele suspirando: Entendeu agora?

domingo, 3 de julho de 2011

#18

Gela meu estômago não saber onde isso vai dar. Porque de todas as vidas que eu quis ter, não me parece justo abrir mão de nenhuma. As malditas escolhas também são sempre abdicações. Inferno.

#17

Enquanto você segue, fico atrás olhando. Tão dono de si. Quase até faz parecer que sempre foi assim. E sim, eu fico atrás. Fico para trás. Ruim? Depende de onde se está olhando. Precisava aprender um dia. E, afinal, quem liga pra todas as outras coisas que foram? De você agora quero pouco. Cada dia menos. Sabe, eu realmente esperei que voce fizesse tudo passar. Acertei na metade.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

#16

Casamento é uma possibilidade distante. Filhos? Mais distante ainda. E independente de qualquer tentativa, meu tamagochi sempre morria de fome mesmo.

#15

Faz assim: inventa um mundo do avesso e mesmo eu sendo grande diz que eu sou sua pequena.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

#14

Ele olhou e naquele momento teve a certeza. Arrependeu-se de tudo que havia não dito. Tentou perceber de onde viera aquela imbecil ideia de que poderia viver só. Remendou com fita crepe uma a uma as lembranças que há tempos rasgará na própria cabeça. Imitou a si mesmo dizendo o nunca mais como daquela vez na frente do espelho, agora sem o mesmo jeito. Emudeceu enquanto na verdade queria gritar e cuspir e xingar. Não conseguiu respirar e aos poucos ficou lá, desmanchando-se. Maldito olhar cruzado, pensou. Talvez se eu apenas nunca mais a tivesse visto, quem sabe. Mas o agora já era tarde demais e esse mesmo agora trouxe tudo que possivelmente já estava embaixo do tapete. O olhar foi o vento entrando pela janela e espalhando pela casa todo aquele pó, de novo. Maldito pó. Talvez se ele apenas tivesse ficado lá, pra sempre. Mas não. Ele preferiu gostar do vento e se fazer redemoinho. Redemoinho de pó, vento e amargura. A amargura danada dos que pensam porque perderam. E logo agora que estava acostumado. É. Devia só ser o tal do destino mesmo.

#13

Olho ao redor. Pareço feita para não estar ali. Vejo as letrinhas saindo do ouvido oposto ao que entraram. Imagino tudo, menos como saber determinar o coeficiente de flambagem correspondente a vinculação da peça poderia me servir um dia. E inútil mesmo é toda aquela minha atenção. Perco tempo não a tendo e mais tempo ainda por não a ter.

terça-feira, 28 de junho de 2011

#12

Nós não queríamos ter nada haver com aquilo e juntos éramos como uma conversa de mãos dadas. Seguimos andando, assim, com todos os anjos conspirando contra nosso favor.

#11

De tão livre, fez-se meu. Tu na tua tão infinita grandeza me entregou o que de mais precioso pôde. Então fez inferno e paraíso. Invadiu-me pelos olhos e quando entrou arrastou consigo algo equivalente ao infinito. Fiz-me sua morada. E tu fez-se de mim. Pois tu cativas tudo aquilo pelo que te tornas responsável. Sou tua. Não mediocremente, hipocritamente. Sou tua porque meus pensamentos seguem os teus. Sou tua porque minhas vontades andam acompanhadas das tuas. Digo então que talvez, apesar de meu, continue livre. Livre pois sente. Meu, pois até agora, tu foi nada além do que sempre desejei.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

#10

Todos diziam que era um gosto tê-la ali. A maioria se preocupava em fingir. E boa mesmo era a risada que ela dava. Só o olhar que, cínico, gritava dizendo nada. E tudo indica que os outros nem chegaram a perceber. Essa gente não percebe mesmo. Isso de alguém não querendo pertencer. E olha, que pra uns ela era de verdade. Mas só pra uns. Uns poucos e muito desnecessários. Ela vai continuar na noite, sabe. Sentada, de pernas cruzadas. A sua volta aquilo de sempre. Na cabeça, o nada presente. É uma pena. Realmente uma pena. Porque o querer existiu um dia. Ela era bonita. Ainda assim, sozinha. Ela teve amores. Tantos amores. E perdida.

#9

E se tudo for um disfarce? Um disfarce bobo e feio de tudo que um dia achei que amei. Eu não quero mais brincar de achar, então. Quero a cor de verdade nas coisas. Quero o que dizem que é e não esse arremedo que sinto. Se não for pedir muito, quero só o que é para ser, obrigada.

#8

Um dia ela acordou, olhou pro céu e viu. Três nuvenzinhas dispostas de modo a formar um triângulo. Puxa, pensou. Se um astronauta vai passando imagina o quê? Que a Terra não passa de uma grande bola de boliche?

domingo, 26 de junho de 2011

#7

Ela parou, respirou e viu que aquilo não passava de desnecessidade. Com o amor devidamente enterrado. Tacou as roupas na mala e foi arrumar uma carona na beira da estrada.

#6

De repente ele a viu. E por um átimo de instante nem sequer reconheceu. Aqueles olhos que tantas vezes havia feito brilhar, agora brilhavam sozinhos. Passou, pernas nuas, sorriu, cabelos soltos. A mesma risada de sempre, gesticulando como quem quer abraçar o mundo e nem o vendo parado ali. Falava ou não falava? Procurou se lembrar se havia mesmo tentado enganá-la um dia. Falou. Soou mais como um murmúrio. Estava intimidado. Ela se virou, olhou e então o abraçou com a força de muito tempo. Ficou apavorado. Preferiria tudo. Palavrões, pontapés, murros e até sangue. Mas abraço? Aquilo o desarmou. Continuava a mesma. Certamente com a velha teoria do tudo passa um dia. Deve ter sido assim. Ele deve ter passado. E agora a também velha tática da indiferença. Continuou nas tentativas frustradas de lembrar que diabos acontecera. Só lembrava que errara gravemente. Da sensação ruim. Do peso na boca do estômago. Mas como se nos olhos não havia amargura nenhuma? Ela fez perguntas. E a vida. E a família. E velhos novos sonhos. Ele respondeu. Indignado com a despreocupação e o tamanho charme com que ela o escutava. Demorou, mas ele se lembrou de tudo que ela realmente significara. Engraçado. De repente pareceu confusa. O olhar, que já parecia indiferente se mostrou mais auto-suficiente ainda. Bom, não importa. Na cabeça parecia que mil pensamentos iam se formando. Ele já não queria saber. Na verdade se perguntava porque a havia deixado, então. A única coisa em que pensava era em tê-la de volta. Esqueceriam o ponto final e fariam um recomeço. Havia finalmente se lembrado de quem ela era. Tudo agora faria a diferença. Sorriu, estendeu a mão, mas de resto, não entendeu nada. Boa sorte?


...


Ela como havia planejado o avistou. Virou para o outro lado com as pernas milimetricamente deixadas a mostra. E os longos cabelos soltos propositalmente. Ficou com medo de ter exagerado nos gestos. Deu uma gargalhada, fez que nem o viu. Depois de reconhecê-la, ele se fez de hesitante. Ela quis rir de novo. Estava funcionando. Viu nos olhos dele a dúvida e as tentativas frustradas para se lembrar que diabos acontecera. Era óbvio que não lembrava. Afinal, o mesmo tolo de sempre. Falou algo, como quem tem medo. Sussurrou, na realidade. E com aquela cara de tudo passa um dia, ela fez exatamente o que mais feriria seu orgulho. O abraçou. Com força, mas procurando se concentrar. Caso perdesse o foco, o abraço poderia se tornar um potencial prejuízo para os planos. Mas não se tornou. Ele havia errado. E isso, ela não poderia perdoar. Ou poderia? Sentiu a costumeira sensação ruim, da qual nunca se livrara. O maldito peso na boca do estômago. Engraçado. Parecia estar diminuindo agora. Nos olhos, o véu que ela aprendeu a usar em frente ao olhar. Aquele véu que escondia tudo e não deixava passar nem o amargor que sentira. Ainda sentia? Fez perguntas. Quis saber. E a vida. E a família. E velhos novos sonhos. E ouviu. Com cara de despreocupada, mas não prestando realmente atenção. É Isso. Não queria realmente prestar atenção. Não fazia diferença. É. Não fazia nenhuma diferença. Na realidade, começou a se perguntar o que fazia ali, então. Na cabeça parecia que todos os mil planos iam se desmanchando. Analisou o que é preciso para se notar o desamor. Talvez uma aproximação forçada e idealizada? Talvez. Será? Será que era ali então que finalmente notara esse tal de desamor? Seria esse então o tão necessário ponto final? Não quis mais saber. Afinal, em segundos se lembrou de quem era. Virou as costas, ainda tendo tempo de vê-lo de mãos estendidas e sorrindo, desejou boa sorte. Foi embora.

#5

Tadinho, sussurrei. Tadinho nada, no fundo pensava. O combinado não sai caro. Afinal, eu já tinha avisado. E que mundo invertido é esse em que ultimamente eu pareço estar? No tempo da mamãe as meninas é que choravam.

sábado, 25 de junho de 2011

#4

Cada um tem seu resultado na noite. Uns vão embora. Outros acordam de cara com o colchão alheio. Melhor ou pior? Não sei. Fato é que olhando de longe o saldo parece realmente positivo.

#3

Preciso que meu barco não balance, preciso que não haja nenhuma tempestade. E dane-se se a viagem se tornar menos interessante por isso. Emoção é relativa.

#2

E o homem bonito só não quis ela. Parou, pensou e não quis ela, que tinha tudo pra ser querida. Porque? Você quer saber. Motivo aparente nenhum. Talvez o olho grande demais. Ou a canela um pouco fina. Talvez a língua pulando da boca. Talvez o jeito de menina. Enfim, tudo não importa. Porque ele só não a quis. Não decretou que a embalassem e a mandassem para o Peru. Nem tampouco fez pouco dela, pois bem muito ela devia ser. É só que nessa besta vida cada um tem seu querer. E inda bem que ela é benquista por muitos outros que não ele. E inda bem que ela é danada e não morreu só por aquele. Tá certo que se tivesse escolha a escolha ia ser ele. Mas não tendo segue a vida que isso é normal, mas não é comum. De todos que vão passar ele é só o capítulo um.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

#1

E é sempre pouco o que eu decido. A vida acaba sempre por fazer isso por mim. Sempre inventando jeitos de bagunçar o meu destino. Sempre recomeçando depois de cada maldito fim. E eu confesso, acabo por concordar. Sento no chão. Pego a coleção. Procuro outra cor. De novo, tento pintar. Acontece que o tom sai sempre o mesmo. Mesmo quando tento misturar. As cores que eu já conheço, formando mais desenhos que eu não quero mais pintar.