quinta-feira, 30 de junho de 2011

#14

Ele olhou e naquele momento teve a certeza. Arrependeu-se de tudo que havia não dito. Tentou perceber de onde viera aquela imbecil ideia de que poderia viver só. Remendou com fita crepe uma a uma as lembranças que há tempos rasgará na própria cabeça. Imitou a si mesmo dizendo o nunca mais como daquela vez na frente do espelho, agora sem o mesmo jeito. Emudeceu enquanto na verdade queria gritar e cuspir e xingar. Não conseguiu respirar e aos poucos ficou lá, desmanchando-se. Maldito olhar cruzado, pensou. Talvez se eu apenas nunca mais a tivesse visto, quem sabe. Mas o agora já era tarde demais e esse mesmo agora trouxe tudo que possivelmente já estava embaixo do tapete. O olhar foi o vento entrando pela janela e espalhando pela casa todo aquele pó, de novo. Maldito pó. Talvez se ele apenas tivesse ficado lá, pra sempre. Mas não. Ele preferiu gostar do vento e se fazer redemoinho. Redemoinho de pó, vento e amargura. A amargura danada dos que pensam porque perderam. E logo agora que estava acostumado. É. Devia só ser o tal do destino mesmo.

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