quarta-feira, 10 de outubro de 2012

#44

Vi aquela menina no espelho e senti vontade de rir. Quem estava do lado de dentro daqueles míopes olhos castanhos? Aqueles, escondidos atrás do cabelo enferrujado, um pouco acima das marcas das sardas e da insônia?

domingo, 30 de setembro de 2012

#45

Então um navio veio buscá-la. Não se sabe se pelo brilho do farol com ar suplicante, ou se pelas ondas e pelo vento que são mesmo só acaso do destino. Mas ele veio. Veio com seu ar imponente, as velas içadas, o leme voltado em sua direção. Atracou no seu cais, a esperou embarcar e então a tirou dali, fazendo-a dormir pra sempre com o doce balanço do mar.

#46

A coruja é um animal imponente. Possui hábitos notivagos e vôo silencioso. Engole suas refeições por inteiro, para depois vomitar pelotas inteirinhas, com pêlos e fragmentos de ossos. A superstição popular diz que adivinham a morte com o seu piar. Assim, por dedução, talvez a sua quedinha por corujas seja mera identificação.

#42

Um sentimento tão vago que faz até a estúpida frase fazer sentido. Solidão é se sentir só mesmo em meio a uma multidão. Pareço mais medíocre ainda me identificando. Talvez as coisas espalhadas e toda a sujeira sejam pra fazer a companhia agradável da qual os humanos não passam nem perto de fazer.

sábado, 22 de setembro de 2012

#41

Ela se sentou, respirou, deu uma olhada em volta. Enfim, completa. Sentiu tudo o que estava ao redor saindo do seu lugar de origem, se dissolvendo em rodopios de poeira no ar, e indo para dentro de suas narinas. Ela então, ao inalar, sentia o gosto de pó na boca. Na garganta. Preenchendo seus pulmões. Preenchendo cada espaço vago que havia. Completa. Tomada por uma certeza de que ali devia estar. Plena de si. Até o minuto seguinte.

terça-feira, 31 de julho de 2012

#47

Tem sempre uma angústia dentro de mim digna de quem não sabe que porcaria tá fazendo. E ela não passa. Assume o controle e vai me consumindo. Faz de mim um vegetal que, por tanta dúvida, prefere mesmo não fazer. Bem mais fácil. Então, não faço. Não faço mas é com convicção. Sem incertezas, sem dúvidas, sem a necessidade de fé ou força de vontade. Sem coragem. Sem dedicação. E sem todas essas outras coisinhas que tornam nossa vida mais complicada.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

#40

Talvez eu não te queira tanto, assim, pra sempre. Talvez, sabe. Mas por enquanto te quero muito. Te quero de um tanto que, para mim, é realmente muito. Para mim... aquela que quase nunca antes quis. E aquela que também, quase nunca antes, foi bem quista.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

#39

Fabrico meus motivos com a mais alta incontestação. E do topo do meu orgulho, sei que a verdade é minha. Nela edifico minhas objeções e extinguo, com perícia, toda e qualquer relatividade. Fixo meus olhos em uma linha reta... e caminho. Argumente comigo, se achar que consegue.